terça-feira, 31 de julho de 2012

Entrevista: Dr. Vinícius Antoniazzi

“A acupuntura não é limitada ao tratamento da dor”

Em março deste ano o Tribunal Regional Federal da 1ª Região analisou o recurso do Conselho Federal de Medicina e decidiu que a acupuntura só poderá ser exercida por médicos. Em outros países do mundo a legislação varia. Na Inglaterra qualquer profissional pode ser acupunturista já na China apenas médicos tradicionais ou médicos com especialização na área podem exercer. Nos EUA cada estado tem uma regra própria.

A acupuntura é reconhecida como especialidade médica desde 1995, mas as potencialidades desta terapia ainda são pouco conhecidas pela maioria dos profissionais. O diretor presidente do Colégio Médico de Acupuntura do Rio Grande do Sul e membro do Conselho de Representantes da AMRIGS, Dr. Vinícius Antoniazzi, concedeu entrevista na qual esclarece dúvidas e mostra que a acupuntura não é mais uma prática alternativa, mas parte da medicina contemporânea.

Confira a entrevista em vídeo ou leia logo abaixo:



Como foi a escolha por essa área de atuação?
Dr. Vinícius Antoniazzi –
Quando entrei para a faculdade eu já tinha a intensão de procurar uma área alternativa. Durante o curso tive a intenção de fazer psiquiatria, mas eu também gostava do procedimento. Fiz residência em medicina geral comunitária e durante a residência apareceu o curso de especialização em acupuntura. A acupuntura acabou juntando esse gosto pelo procedimento com o desejo por uma área que lidasse não só com medicação, alopatia, mas também com as capacidades naturais do organismo de reagir à doenças e se recuperar.

Quais as doenças ou problemas de saúde que podem ser tratados?
Dr. Antoniazzi –
Tem coisas que a acupuntura trata especificamente. Por exemplo, na dor, principalmente dor músculo-esquelética, se tem um resultado muito específico. Também conseguimos melhorar muito problemas alérgicos – rinite, asma – atopias de forma geral reagem bem à acupuntura. Na área das queixas emocionais tem um bom efeito em ansiedade, depressão, distúrbios do humor em geral. Mas há um grande número de patologias onde ela age de uma forma não específica. A acupuntura tem uma diferença grande das medicações. O ideal de uma medicação é que ela tenha o efeito mais específico possível sobre um determinado problema. A acupuntura, neste sentido, é o oposto porque não age de forma específica sobre uma situação, mas também melhorando o estado geral do organismo. Ela tem o que a gente chama de efeito homeostático. E nessa melhora muitas queixas do paciente acabam melhorando junto. A área que temos mais estudo e comprovação do ponto de vista de evidências científicas é na área de dor, mas a acupuntura não é limitada ao tratamento da dor.

Como funciona o tratamento?
Dr. Antoniazzi – O tratamento tem que ser adequado a cada caso, mas, de forma geral, o paciente tem que ter uma certa disciplina de fazer uma sequência de sessões. São poucos os casos onde uma sessão resolve o problema. Às vezes acontece, principalmente em queixas agudas, mas normalmente é necessária uma sequência de sessões. Elas podem ser feitas uma vez por semana ou duas, três vezes em queixas mais graves. E conforme o paciente vai melhorando nós vamos espaçando as sessões até debelar o problema ou até atingir um estado de equilíbrio. Muitas pessoas têm queixas que não vão curar com acupuntura, mas conseguem se manter bem fazendo o tratamento continuamente por um período indeterminado.

Qual a diferença entre a acupuntura e a eletro-acupuntura?
Dr. Antoniazzi –
A eletro-acupuntura pode se dizer que é um complemento à acupuntura só com agulhas. Basicamente, depois de colocadas as agulhas nos pontos corretos se aplica um estímulo elétrico em cima delas. Isso pode ser feito com diversas técnicas. Em alguns casos nós deixamos um aparelho estimulando as agulhas durante todo o período da sessão (a sessão dura entre 20 e 30 minutos), outras vezes se faz só alguns estímulos, visando fazer o músculo contrair e relaxar várias vezes, o que provoca um reflexo de relaxamento muscular depois. Existem colegas que trabalham exclusivamente com eletro-acupuntura e outros que quase não usam ou usam só em situações especiais ou quando o paciente não está respondendo bem à acupuntura sem eletroestimulação.

Que novidades surgiram no congresso de acupuntura realizado aqui na AMRIGS?
Dr. Antoniazzi –
As pesquisas costumam vir de fora. Uma coisa que para nós é novidade são pesquisas de boa qualidade que estão sendo feitas aqui no Brasil. Existem grupos de residência médica em acupuntura fazendo pesquisa, publicando, ganhando prêmios. Isso na nossa área é uma grande novidade. Tivemos também releituras da acupuntura tradicional do ponto de vista contemporâneo e algumas técnicas mais cirúrgicas da acupuntura. Um convidado do México trouxe uma técnica de acutomoterapia que é uma intervenção mais cirúrgica da acupuntura. A implantação de catgut, que também é uma técnica mais cirúrgica. O catgut pode ser usado para estimular os pontos de uma forma mais duradoura.

Por que só médicos devem exercer a prática da acupuntura?
Dr. Antoniazzi –
Vamos começar com o exemplo da China, que é o berço da acupuntura. Não dá mais para dizer que a acupuntura seja uma coisa chinesa, mas foi lá que nasceu. Na China só médicos fazem acupuntura. Lá existe uma faculdade de medicina, vamos chamar, convencional que é como a nossa aqui, e tem uma outra faculdade de medicina que é a faculdade de medicina tradicional onde se formam médicos. Na China nenhum fisioterapeuta, nenhum psicólogo, nenhum terapeuta ocupacional faz acupuntura. Só quem se forma médico tradicional ou quem se forma na medicina convencional e depois faz uma especialização em acupuntura. Em outros países mundo afora as legislações variam bastante. Do ponto de vista técnico temos dois argumentos. Primeiro que para atender uma pessoa, independente do método que for usar para o tratamento, é extremamente necessário que seja feito um diagnóstico médico. Para saber se a situação dela é um caso para acupuntura, se é um caso onde vai ter que usar acupuntura mais outros tipos de tratamento, se vai precisar encaminhar esse paciente para um oncologista para tratar um tumor que possa estar causando uma dor. Nós conseguimos tratar a dor, mas o tumor tem que ser tratado adequadamente. Só o médico tem formação e capacitação legal para fazer o diagnóstico. E o segundo argumento é do procedimento propriamente dito. Acupuntura é feita com agulhas finas que aparentemente são inócuas, só que isto não é verdade. A acupuntura é um procedimento invasivo. Nós atingimos estruturas profundas do organismo, e temos que saber onde estamos colocando esta agulha. Conhecer a anatomia profunda do corpo humano, não só a anatomia superficial, muscular. E, da mesma forma, só o médico tem essa formação em anatomia necessária, não só para fazer uma acupuntura que seja efetiva, porque não adianta só colocar agulhas superficialmente na pele, mas também para evitar acidentes. Já houve casos de perfuração de pulmão, de coração, de outros órgãos internos, lesão de nervos. Então realmente o procedimento não é inócuo. É bem claro que as outras profissões da área da saúde não têm uma formação que contemple o diagnóstico e a questão do procedimento invasivo.

Por que levou tanto tempo para o CFM reconhecer a acupuntura como prática médica?
Dr. Antoniazzi –
Eu acho isso bem natural. Para o Conselho Federal de Medicina reconhecer qualquer ato como ato médico esse procedimento tem que passar por um crivo, somar um conjunto de evidências científicas de que ele é realmente seguro e efetivo. Houve toda uma análise científica, técnica da acupuntura e isso foi um processo que durou um bom tempo até que houve o reconhecimento em 1992, como ato médico, e em 95 passou a ser especialidade médica.

O que os médicos de outras especialidades deveriam saber sobre acupuntura?
Dr. Antoniazzi –
Como ainda existe pouco na formação do médico – são poucas as faculdades de medicina que tem acupuntura entre as cadeiras que o médico vai cursar – a maioria dos médicos não têm conhecimento do que é a acupuntura atual e muito menos das indicações, das doenças que nós podemos tratar. O que eu recomendaria é que eles se informassem bem. Muitos colegas, principalmente os mais antigos, ainda têm uma visão baseada em preconceitos, em coisas que não são a realidade da acupuntura. A acupuntura atual é muito diferente da que era há 40 anos ou mesmo há 20. Muitos pacientes tem muitos benefícios com a acupuntura. Nós tratamos muita gente que está há anos lidando com um problema, rolando de médico em médico sem um tratamento adequado, que resolva o problema e nós conseguimos resolver com acupuntura.

E mesmo para minimizar sofrimentos e efeitos colaterais como os da quimioterapia, certo?
Dr. Antoniazzi –
Exatamente. Essa é uma das áreas na qual nós temos evidências bem fortes em pesquisas. A acupuntura consegue melhorar não só a náusea pós quimioterapia, que é uma coisa que foi muito bem estudada, mas também está comprovado que ela aumenta muito a qualidade de vida geral dos pacientes que estão se submetendo ao tratamento para o câncer, tanto da radio como da quimioterapia. Esses pacientes passam muito melhor fazendo acupuntura do que fazendo só o tratamento convencional. Uma coisa importante é que se saiba é que a acupuntura já não é mais uma prática alternativa. Não deixa de ser alternativa num certo sentido, mas normalmente esse “alternativa” é usado de uma forma meio preconceituosa, que deixa de fora da medicina convencional. Acupuntura é parte da nossa medicina. Ainda um pouco desconhecida de certos colegas, mas ela faz parte das coisas que o médico pode lançar mão para tratar o paciente. 

domingo, 29 de julho de 2012

Da Poesia da Maconha ao Drama do Crack

A Associação de Psiquiatria do Rio Grande do Sul oferece no dia 04 de agosto o evento “Da Poesia da Maconha ao Drama do Crack”. Direcionado a médicos e profissionais da área da saúde, o ciclo de palestras inicia as 8h30min na sala 21 do Centro de Eventos da AMRIGS.

A atividade é gratuita. Interessados podem inscrever-se na secretaria da APRS, ou pelo fone (51) 3024.4846. Clique no cartaz para mais informações.

I Curso de Psiquiatria para Pediatras

A Associação de Psiquiatria do Rio Grande do Sul oferece a partir de 04 de agosto o “I Curso de Psiquiatria para Pediatras”. O curso é direcionado para pediatras e também para psiquiatras que atuam na área da infância e adolescência. Interessados podem inscrever-se na secretaria da APRS, ou pelo fone (51) 3024.4846. Clique no cartaz para mais informações.

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Conselheiros na mídia

Dra. Ada Lygia Pinto Ferreira esteve no Jornal do Almoço da RBSTV Pelotas no dia 27 de junho de 2012 tirando dúvidas sobre o diabetes e respondendo perguntas da população. Confira o vídeo CLICANDO AQUI.